O princípio de uma parceria duradoura

Mevlut Çavusoglu |*

28 de Maio, 2017 Jornal de Angola

A África passa por uma imensa mudança. A transformação positiva é alimentada pelo trabalho árduo, resiliência e perseverança dos africanos jovens e idosos que estão determinados a transformar a página da pobreza. Temos todas as razões para acreditar que o futuro da África parece promissor.

Na verdade, podemos ver o impulso positivo reflectido pela redução dos riscos geopolíticos, estabilidade sustentada, crescimento económico, expansão do comércio, maior bem-estar e melhores condições de vida em todo o continente. Os desafios à paz e à segurança ainda existem. Mas eles certamente podem ser superados.

À medida que olhamos para o futuro, a Turquia está determinada, mais do que nunca, a alargar a sua cooperação com África a novos domínios. Buscamos desenvolver parcerias mutuamente benéficas que ajudarão a construir uma base sólida para relações duradouras e produtivas. Ao contrário dos poderes coloniais passados, a história está do nosso lado. Por um lado, há o elemento humano. A Turquia tem profundos laços históricos e culturais com o continente desde os tempos do Império Otomano. Também pretendemos olhar sobre o elemento humano, incentivando o contacto de pessoa para pessoa. A nossa transportadora aérea nacional, a Turkish Airlines, recentemente adicionou Conakri como o 51.° destino no continente. À medida que facilitamos o transporte de e para os países do continente, também estamos a promover a interacção dos africanos com a Turquia e também com o mundo.

Forte determinação política para uma relação duradoura

Desejo também sublinhar a determinação da nossa vontade política em trabalhar com África. Nossa determinação reflecte-se no forte interesse do Presidente Erdogan, que atribui grande importância à África. Ele não só visita as nações africanas e recebe seus líderes na Turquia, como também incentiva empresas, universidades, ONG, centros de pesquisa e cidadãos comuns a se envolverem em relações mutuamente vantajosas. Ele constrói confiança mútua, convicção e benefício para todos, para que todas as questões sejam tratadas de uma maneira aberta e sincera.

Durante a última década como primeiro-ministro e agora como Presidente da República, Erdogan efectuou mais de 30 visitas a 23 países africanos - um número recorde de visitas para um líder não-africano. Em 2016, recebemos numerosos Chefes de Estado de países africanos, enquanto no primeiro semestre do ano em curso tivemos as visitas dos Presidentes da Etiópia, Guiné, Serra Leoa e Somália. Essas visitas continuam a dar uma visibilidade do país e sobre a nossa política africana.

Devo também sublinhar que a nossa presença diplomática no continente está a crescer rapidamente. Hoje, 39 Embaixadas turcas operam em diferentes países do continente. Há também um aumento considerável no número de embaixadas africanas em Ancara. O número total aumentou para 33, com a recente abertura da Embaixada da Tanzânia.

Enquanto trabalhamos para fazer avançar os nossos laços bilaterais com os países africanos, estamos também a estabelecer um mecanismo de cooperação sólido com a União Africana. 2008 teve um significado especial no desenvolvimento das nossas relações com a África. Naquele ano, a União Africana declarou a Turquia como um “parceiro estratégico”, e a primeira “Cimeira de Cooperação Turquia-África” foi realizada em Istambul. A Cimeira iniciou um processo de colaboração estável e sustentável que conduziu à segunda “Cimeira de Cooperação Turquia-África”, realizada na Guiné Equatorial em 2014 e com a Terceira Cimeira a ser realizada em Istambul em 2019. Juntamente com o fortalecimento e diversificação de nossas relações bilaterais das nossas relações com os países africanos, bem como os nossos laços institucionais com a União Africana, recentemente decidimos renomear a nossa “Política de Abertura para a África” por um conceito mais adequado, ou seja, “Política de Parceria da Turquia para a África”.

Soluções Africanas para os Problemas Africanos: O lema da nossa Política de Parceria

Esta não é apenas uma palavra para atrair a atenção para uma ferramenta de política externa. Tem substância e direção clara. Envolve forte determinação de nossa parte e também abrange nossa compreensão em fornecer um processo de interacção em dois sentidos. Na verdade, o lema da nossa “Política de Parceria para África ” é “Soluções africanas para os problemas africanos”. Fazemos todos os esforços para promover a apropriação africana no nosso compromisso com os nossos parceiros africanos.

O que considero absolutamente pertinente para o futuro da África é o seu desenvolvimento económico sustentável. Neste momento crítico de mudança, sentimos que a Turquia é mais adequada para compartilhar suas experiências com o continente e avançar para um modelo de cooperação económica que é baseado num cenário de “ganha-ganha” em vez de um jogo de soma zero que produz vencedores e perdedores. Devo sublinhar que os investimentos totais da Turquia em África ultrapassaram recentemente os 6 mil milhões de dólares. Estes investimentos estão a proporcionar empregos necessários, infra-estruturas, ajudando as economias locais e aumentando as exportações de produtos finais da África para terceiros países.

Estamos também a notar um rápido aumento do nosso comércio com o continente, que atingiu 16,8 mil milhões de dólares em 2016, o que representa um aumento de quatro vezes no comércio com África, em comparação com 2003. Também estamos a tentar contribuir para a implementação da “Agenda 2063’’ da União Africana para o desenvolvimento económico, organizando reuniões temáticas ministeriais sobre áreas como negócios e agricultura, em conjunto com fóruns que reúnem empresários turcos e africanos.

Na vanguarda da prestação de ajuda humanitária e de desenvolvimento a África

A Turquia está também activamente envolvida na superação das crises humanitárias em África. O nosso compromisso a longo prazo na Somália desde 2011 é um excelente exemplo. Nós pensamos que simplesmente não nos podemos dar ao luxo de esperar e ver como desastres naturais ou de origem humana se desdobram em frente dos nossos olhos, devastando centenas de milhares de pessoas e colocando em perigo as vidas das gerações futuras.

Tomemos, por exemplo, as recentes secas que afectaram a África Oriental. No início de Março, o Crescente Vermelho da Turquia lançou uma campanha nacional de doação intitulada “Seja a esperança da humanidade”. Como primeiro passo desta campanha, o Crescente Vermelho da Turquia e a Agência Internacional de Cooperação e Coordenação da Turquia já começaram a prestar a tão necessária ajuda à Somália. No entanto, é essencial encontrar soluções duradouras para quebrar o círculo vicioso das secas e da fome. Por isso, como presidente da Cimeira da Organização dos Países Islâmicos (OIC), liderámos recentemente uma iniciativa para apoiar países africanos do Leste devastados pela seca com projectos sustentáveis a serem implementados pela OIC.

No dia 15 de Julho de 2016, a Turquia foi alvo de uma tentativa de golpe hediondo perpetrada pela organização terrorista Fetullah Gulen (FETO), em que 249 dos nossos cidadãos foram brutalmente assassinados e mais de 2.000 civis inocentes foram feridos. Gostaria de agradecer o apoio e a solidariedade prestada pelos nossos amigos africanos depois desta tentativa contra a nossa democracia e as nossas liberdades fundamentais. O FETO tem numerosas redes em África, e representa uma ameaça iminente não só para a Turquia, mas também para os países africanos e sua liderança actual. Vários países africanos tomaram rapidamente e com sabedoria medidas contra o FETO, seja fechando ou transferindo escolas filiadas no FETO para a Fundação Turca Maarif (Educação) ou proibindo organizações filiadas. Pedimos a todos os nossos amigos africanos que sigam o exemplo.

Para concluir, gostaria de sublinhar que a nossa visão de cooperação com a África assenta numa política de ganhos recíprocos baseada na igualdade, na transparência e na sustentabilidade. Através da nossa política empreendedora e humanitária, estendemos a nossa mão a África. Estamos contentes em ver que a nossa motivação é compartilhada pelos nossos irmãos e irmãs africanos que possuem a visão de uma África melhor.

* Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia